Os efeitos do cigarro sobre os dentes e a boca
novembro 12th, 2010 por admin
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Quais os perigos que a fumaça do cigarro representa para a saúde bucal?
O uso crônico de tabaco é considerado um fator de risco para uma
série de doenças orais. Toda forma de uso de tabaco é comprovadamente
prejudicial à saúde do homem e especialmente da boca. O consumo de
cigarros, charutos ou produtos de tabaco mascado pode causar prejuízo à
saúde bucal. A maioria das pesquisas encontradas na literatura é
relacionada ao uso de tabaco na forma de cigarros.
Entre os principais danos à boca causados pelo fumo estão o câncer
bucal, a doença periodontal e a halitose. O fumo também causa manchas
nos dentes, língua e mucosas, deixando a boca com manchas escuras
denominadas melanose do fumante. As defesas do organismo ficam
diminuídas, tanto sistêmicas quanto locais, prejudicando a cicatrização
de feridas e a osteointegração de implantes dentários.
O tabaco causa mau hálito?
Sim, os produtos da combustão do tabaco são uma das principais causas
de mau hálito, também denominado halitose. Os odores da fumaça inalada
são expelidos durante a fala e a respiração. O uso de cigarro, charuto,
cachimbo, maconha ou tabaco mascado (fumo de rolo), associado a uma má
higiene da boca, da língua e à presença de doença periodontal, pode
tornar o hálito extremamente desagradável. Outro agravante é a
diminuição do fluxo salivar (boca seca) causada por essas substâncias,
diminuindo a “limpeza” fisiológica do próprio organismo, aumentando a
halitose do paciente.
É possível perder os dentes devido ao fumo?
Sim, vários estudos comprovam a associação hábito de fumar com a
doença periodontal. A doença periodontal é um processo inflamatório
crônico da gengiva e/ou dos tecidos de suporte dos dentes, podendo levar
à reabsorção óssea alveolar, ao aumento da mobilidade dental, à
exposição das raízes e perda dos dentes.
A principal causa de doença periodontal é o acúmulo de placa
bacteriana nas superfícies dos dentes. Essa placa é composta
principalmente por bactérias que produzem toxinas que destroem os
tecidos de suporte dos dentes (gengiva, cemento, osso e ligamento
periodontal), causando gengivite (inflamação das gengivas) e
periodontite (inflamação dos tecidos ao redor do dente). A periodontite,
quando severa, afeta o osso, causando aumento da mobilidade e até mesmo
a perda dos dentes.
O exato papel do tabaco sobre os tecidos periodontais tem sido
amplamente investigado. Pesquisas afirmam que fumantes têm maior acúmulo
de placa que não-fumantes e que as bactérias presentes nessa placa são
mais agressivas, podendo causar formas mais graves de doença
periodontal. Outros estudos afirmam que as toxinas presentes no cigarro
podem induzir ou exacerbar a doença periodontal existente, além de
prejudicar o tratamento, alterando a resposta imune local e diminuindo a
ação dos fibroblastos na reparação dos tecidos lesados. A severidade da
doença periodontal está relacionada com a duração e a quantidade de
cigarros fumados por dia.
Por que a saúde bucal de um fumante é mais frágil do que a do não-fumante?
De acordo com o INCA, o consumo de tabaco causa aproximadamente 50
doenças diferentes e um fumante adoece em média 2 a 3 vezes mais que um
não-fumante. Na composição do cigarro estão mais de 4.720 substâncias,
dentre elas mais de 60 são capazes de causar danos ao nosso organismo.
Na boca, o cigarro agride as células da mucosa e ainda diminui sua
capacidade de cicatrização e de defesa, deixando-a mais sujeita à ação
de agentes agressores como bactérias, vírus e fungos, além de conter
substâncias carcinogênicas que aumentam a probabilidade do
desenvolvimento de câncer bucal.
Por que os dentes e as gengivas escurecem?
Entre os componentes do cigarro está a nicotina, que se acumula nas superfícies dos dentes, causando uma pigmentação escura.
A pigmentação das mucosas é denominada melanose do fumante. A
nicotina do cigarro estimula a produção de melanina, causando manchas
acastanhadas, principalmente nas gengivas dos fumantes de cigarro e nas
comissuras e nas bochechas dos fumantes de cachimbo. As mulheres são
mais afetadas, e tem sido sugerido que tal fato se deva aos hormônios
femininos. As pigmentações ocorrem mais em fumantes inveterados. Com a
cessação do hábito de fumar as manchas na mucosa desaparecem
gradativamente, mas pode levar até três anos para que isso ocorra.
O cigarro pode provocar problemas na salivação?
Sim. A saliva tem um papel importante na proteção da boca, do
epitélio gastrointestinal e da orofaringe. Em sua composição estão
substâncias que participam da limpeza da boca e do equilíbrio da
microflora bucal. A diminuição de saliva aumenta o risco de cáries e a
propensão à candidose bucal.
O cigarro causa diminuição na secreção salivar, deixando uma sensação
de boca seca, denominada xerostomia. Esse sintoma provoca dificuldade
na mastigação, deglutição e fonação, além de tornar a mucosa bucal mais
sensível, podendo surgir feridas na boca e fissuras na língua.
Um estudo do Instituto de Tecnologia Technion-Israel, em Haifa,
recriou os efeitos do cigarro em células cancerígenas na boca. Metade
das amostras foi exposta somente ao fumo e outra a uma mistura de fumo e
saliva. Os pesquisadores constataram que o cigarro combinado com a
saliva produz mais danos às células que o cigarro separadamente.
O hábito de fumar pode causar que tipos de câncer na região da boca e da garganta?
O tabagismo está relacionado aos cânceres de lábio e da cavidade
bucal (câncer de boca), faringe, laringe e esôfago. Dependendo do tipo e
da quantidade de tabaco usado, os fumantes apresentam uma probabilidade
4 a 15 vezes maior de desenvolver câncer de boca do que os
não-fumantes. Se a pessoa deixa de fumar esse risco decresce, mas
somente após 10 anos sem fumar terá o mesmo risco de desenvolver a
doença que uma pessoa que nunca fumou.
A causa do câncer não tem um único fator definido. Ela depende de uma
série de fatores sistêmicos, como doenças sistêmicas e deficiências
nutricionais, e de fatores externos aos quais o indivíduo se expõe
voluntariamente, como o fumo, o álcool e os raios solares. Entre os
pacientes que morrem em decorrência de câncer da cavidade bucal, 90% são
fumantes.
O câncer de lábio é mais freqüente em pessoas de pele clara que se
expõe por muito tempo ao sol sem proteção. A grande maioria (90%) dos
casos ocorre no lábio inferior e aparece como uma ulceração indolor,
endurecida, rígida e encrostada no vermelhão do lábio inferior.
Na boca as áreas mais afetadas são a língua e o assoalho da boca. As
lesões aparecem inicialmente como pequenas feridas indolores que não
cicatrizam, aumentos de volume (caroços, inchaços) ou manchas
esbranquiçadas ou avermelhadas.
De acordo com as estimativas do INCA para 2008, o câncer de boca está
em 5º lugar em incidência no Brasil, seguido pelo câncer de esôfago.
Há mudanças no paladar?
Sim, o fumante tem alterações no olfato e no paladar dos alimentos. O
fumo causa atrofia das papilas gustativas do dorso da língua,
ocasionando diminuição do paladar, especialmente de alimentos salgados.
Há riscos de cárie?
Ainda não há uma comprovação científica de uma relação direta entre
prevalência de cáries e fumantes. Existem algumas hipóteses que sugerem
que as modificações na saliva causadas pelo fumo diminuem o potencial de
remineralização e limpeza da saliva, aumentando o risco de cárie.
Alguns estudos mostraram que fumantes têm maior quantidade de acúmulo de
placa bacteriana que não-fumantes e uma higiene bucal mais deficiente,
além de uma diminuição das defesas do organismo, o que leva a um maior
risco de doença periodontal, expondo as raízes dos dentes ao meio bucal e
à ação de bactérias cariogênicas.
Um estudo de 2003 nos Estados Unidos demonstrou uma associação entre
tabagismo passivo e cáries nos dentes decíduos (de leite). O tabagismo
passivo foi avaliado pelo nível de um derivado da nicotina, a cotinina,
presente na saliva de crianças expostas à fumaça de cigarros. O nível
socioeconômico, os hábitos alimentares e de higiene bucal dos dois
grupos foram similares. Foi encontrado que nas crianças expostas ao
cigarro o pH da saliva era significantemente mais ácido, o que pode
causar maior desenvolvimento de cáries. O estudo também encontrou que
aproximadamente 32% das crianças expostas ao cigarro tinham cáries nas
superfícies de seus dentes de leite, comparado com 18% das crianças não
expostas.
Quais os tratamentos para combater alguns efeitos do cigarro?
Mais importante que tratar é prevenir, é orientar o paciente dos
riscos para sua saúde e dos que o cercam e orientá-lo a parar de fumar. O
dentista tem que estar ciente de sua importância como profissional de
saúde na colaboração em campanhas antitabagistas e no diagnóstico
precoce de lesões bucais, aumentando a chance de cura dos pacientes e
diminuindo as sequelas dos tratamentos.
O fumante deve realizar visitas ao dentista periodicamente, fazendo
um acompanhamento dos dentes, gengivas e principalmente da mucosa bucal.
Existem tratamentos periodontais e restauradores para limitar os danos
causados pelo cigarro e pela má higiene bucal. As manchas nos dentes
podem ser removidas por limpeza profissional e clareamento dental, desde
que o paciente pare de fumar.
O Estomatologista é o profissional dentista especializado, capaz de
identificar lesões cancerizáveis e realizar biópsias ou coleta de
células da lesão para um correto diagnóstico e realização dos
tratamentos necessários.
O autoexame é outra arma importante que o paciente tem na prevenção
do câncer bucal. Ele é feito pelo próprio paciente diante de um espelho,
em ambiente iluminado, inspecionando-se todas as superfícies da boca,
principalmente parte posterior da língua e assoalho bucal. O paciente
deve procurar:
- Feridas ou úlceras que não cicatrizem por mais de 15 dias;
- Manchas ou placas esbranquiçadas que não são removidas por raspagem;
- Manchas ou placas avermelhadas;
- Lesões nodulares, endurecidas;
- Inchaços na boca ou no pescoço.
Esse exame não substitui o exame feito por um profissional
especializado. Mesmo se você não encontrar nenhuma alteração, não deixe
de consultar um cirurgião-dentista pelo menos uma vez ao ano.
Para prevenir o câncer bucal o fumante deve:
Reduzir o uso do cigarro e se possível até mesmo abandoná-lo. Devemos
lembrar que os danos são proporcionais à quantidade de cigarros
fumados.
Evitar a associação do fumo com o álcool, pois este aumenta os efeitos nocivos do cigarro.
Ter uma alimentação saudável, consumindo frutas, legumes e verduras.
Realizar consultas periódicas com o dentista e manter uma boa higiene bucal.
Ana Cláudia Santos de Azevedo Izidoro é Graduada em Odontologia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Especialista em Endodontia
pela UFRJ; Mestre em Odontologia, área de concentração Estomatologia,
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; Oficial Dentista
(Capitão) do Exército Brasileiro, atuando nas clínicas de Endodontia e
Estomatologia do Hospital Geral de Curitiba; Coordenadora do curso de
especialização em Estomatologia do IPPEO – Instituto Paranaense de
Pesquisa e Ensino em Odontologia.
fonte:http://idmed.uol.com.br/Saúde/Saúde-Bucal/os-efeitos-do-cigarro-sobre-os-dentes-e-a-boca.html