Ensino
Terça-feira, 12/06/2012
Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Atualmente, o projeto Ler em Pensar faz parte da rotina de 509 instituições de ensino em todo o Paraná
Leitura de jornal no currículo
Proposta na Assembleia Legislativa prevê a distribuição de jornais e revistas em escolas da rede pública do Paraná
Publicado em 12/06/2012 | Jônatas Dias Lima
Alunos
de escolas públicas de todo o Paraná podem ter garantido o acesso a
jornais e revistas em sala de aula. O estímulo à leitura de periódicos
no ambiente escolar já tem o apoio de várias entidades civis e a
atividade tem sido analisada em diversas pesquisas acadêmicas. Assim
como já ocorre na Bahia e em Santa Catarina, a prática tem a
possibilidade de se tornar obrigatória nas instituições paranaenses caso
um projeto de lei seja aprovado na Assembleia Legislativa.
A proposta elaborada pelo deputado Ney Leprevost (PSD) estabelece esse tipo de exercício como atividade extracurricular e determina que escolas públicas de ensino fundamental e médio recebam, diariamente, pelo menos um exemplar de um jornal local ou regional e, mensalmente, uma revista de informação de amplitude nacional. A escolha dos periódicos será feita por meio de processo licitatório e o contrato deve se limitar ao período correspondente ao calendário escolar anual.
Rafaela Bortolin, repórter da Gazeta do Povo, mestranda em Educação pela PUCPR e pesquisadora do uso de jornais em sala de aula
Acompanho de perto as atividades do projeto Ler e Pensar desde 2009 para elaborar a minha dissertação de mestrado sobre o uso de jornais na escola. Um tema apaixonante.
Relatos de professores envolvidos com a ação dão os detalhes de suas experiências. As histórias vão da “bagunça inicial” – com todos os alunos curiosos, folheando os jornais e fazendo uma série de perguntas – aos momentos de discussão – quando os jovens associam as matérias ao seu dia a dia, aos problemas de sua comunidade ou às suas experiências de vida. Tudo é visto pelos educadores como oportunidade para despertar o lado crítico, autônomo e cidadão dos estudantes que, na maioria dos casos, tinham pouco ou nenhum contato com a mídia impressa fora das aulas.
Trabalhar com o jornal na escola abre as portas para que a comunidade escolar seja capaz de analisar o mundo, fazer críticas e agir sobre ele, de maneira conjunta e consciente, para modificá-lo. Durante esse período da pesquisa, descobri que o jornal em si não educa e pode se tornar apenas um recurso a mais, como outros que são subutilizados nas escolas. Porém, a combinação de uma capacitação bem estruturada para professores, a disponibilidade de materiais atualizados, o apoio da equipe pedagógica e muita força de vontade por parte dos docentes gera resultados incríveis.
Como alguns professores dizem, “dá muito trabalho” usar o jornal na escola. São horas e até dias para elaborar uma boa ideia, reunir edições, planejar aulas e desenvolver atividades que despertem a curiosidade nos alunos. É preciso tudo isso para fazer com que os jovens leiam o jornal além do que está escrito, levando-os a refletir e produzir suas próprias opiniões sobre os assuntos e, em um plano maior, sobre a sua comunidade, a sociedade e o mundo do qual fazem parte.
O desafio não é fácil, mas mostra-se altamente instigante e vale muito a pena.
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Uma das maiores incentivadoras da prática é a Associação
Nacional de Jornais (ANJ). Em 2008, uma pesquisa qualitativa promovida
pela instituição – da qual participaram alunos e professores de escolas
públicas e particulares de sete capitais brasileiras – destacou o uso do
jornal como ferramenta de aprendizagem. O desenvolvimento do hábito da
leitura, a ampliação do vocabulário, a assimilação de conteúdo e o
estímulo ao senso crítico surgiram como os maiores benefícios.
A ANJ mantém desde 1982 o programa Jornal e Educação, um meio de incentivar as empresas associadas a lançarem iniciativas que aproximem jovens estudantes da leitura de periódicos. Segundo dados da associação, existem hoje 50 programas de incentivo à leitura de jornais no país. Em geral, os acordos são firmados entre empresas jornalísticas e prefeituras, escolas privadas, sindicatos ou bibliotecas. Só na Região Sul, há 16 programas que levam o conteúdo dos periódicos a alunos da educação básica.
Aplicação
Para a professora doutora Lídia Maria Gonçalves, pesquisadora do tema na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o maior benefício da prática é o desenvolvimento do gosto pela leitura – base para o desenvolvimento intelectual e que não se dá somente por meio de livros didáticos. Ela destaca ainda que a mídia impressa pode conectar alunos ao mundo em que estão inseridos, ligando os temas do ambiente escolar às questões sociais contemporâneas. “Ao mesmo tempo em que os alunos têm contato com a norma culta da língua, eles passam a conhecer assuntos de interesse público. É uma forma de ligar a escola com a vida.”
A faixa etária dos alunos não é um problema para a pesquisadora. Com as devidas adaptações, Lídia defende que é possível incluir os jornais no cotidiano escolar desde a educação infantil. “É claro que alunos da pré-escola não sabem decodificar, mas a leitura é muito mais do que decodificação. É compreensão e interpretação. E isso elas fazem”, diz. Com crianças pequenas, temas abordados pela mídia impressa podem ser usados em projetos desenvolvidos em sala de aula, como o trânsito ou o meio ambiente.
O projeto Ler e Pensar foi criado pela Gazeta do Povo em 1999 e é mantido a partir de parcerias com secretarias municipais de Educação, instituições de ensino superior, patrocinadores, apoiadores, além de educadores e pedagogos de escolas públicas e particulares. Em 12 anos, o projeto beneficiou cerca 600 mil estudantes e 5 mil professores em 40 municípios paranaenses. Hoje, 509 escolas públicas, privadas e organizações não governamentais estão vinculadas ao projeto.
No ano passado, o Ler e Pensar venceu a categoria Newspaper in Education do Prêmio Mundial Jovens Leitores, promovido pela Associação Mundial de Jornais (WAN), que reconhece ações encabeçadas por empresas jornalísticas e voltadas à formação de jovens leitores.
A proposta elaborada pelo deputado Ney Leprevost (PSD) estabelece esse tipo de exercício como atividade extracurricular e determina que escolas públicas de ensino fundamental e médio recebam, diariamente, pelo menos um exemplar de um jornal local ou regional e, mensalmente, uma revista de informação de amplitude nacional. A escolha dos periódicos será feita por meio de processo licitatório e o contrato deve se limitar ao período correspondente ao calendário escolar anual.
Opinião
Um desafio instigante e que vale a penaRafaela Bortolin, repórter da Gazeta do Povo, mestranda em Educação pela PUCPR e pesquisadora do uso de jornais em sala de aula
Acompanho de perto as atividades do projeto Ler e Pensar desde 2009 para elaborar a minha dissertação de mestrado sobre o uso de jornais na escola. Um tema apaixonante.
Relatos de professores envolvidos com a ação dão os detalhes de suas experiências. As histórias vão da “bagunça inicial” – com todos os alunos curiosos, folheando os jornais e fazendo uma série de perguntas – aos momentos de discussão – quando os jovens associam as matérias ao seu dia a dia, aos problemas de sua comunidade ou às suas experiências de vida. Tudo é visto pelos educadores como oportunidade para despertar o lado crítico, autônomo e cidadão dos estudantes que, na maioria dos casos, tinham pouco ou nenhum contato com a mídia impressa fora das aulas.
Trabalhar com o jornal na escola abre as portas para que a comunidade escolar seja capaz de analisar o mundo, fazer críticas e agir sobre ele, de maneira conjunta e consciente, para modificá-lo. Durante esse período da pesquisa, descobri que o jornal em si não educa e pode se tornar apenas um recurso a mais, como outros que são subutilizados nas escolas. Porém, a combinação de uma capacitação bem estruturada para professores, a disponibilidade de materiais atualizados, o apoio da equipe pedagógica e muita força de vontade por parte dos docentes gera resultados incríveis.
Como alguns professores dizem, “dá muito trabalho” usar o jornal na escola. São horas e até dias para elaborar uma boa ideia, reunir edições, planejar aulas e desenvolver atividades que despertem a curiosidade nos alunos. É preciso tudo isso para fazer com que os jovens leiam o jornal além do que está escrito, levando-os a refletir e produzir suas próprias opiniões sobre os assuntos e, em um plano maior, sobre a sua comunidade, a sociedade e o mundo do qual fazem parte.
O desafio não é fácil, mas mostra-se altamente instigante e vale muito a pena.
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Como o jornal pode ser usado de forma criativa em sala de aula?Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
A ANJ mantém desde 1982 o programa Jornal e Educação, um meio de incentivar as empresas associadas a lançarem iniciativas que aproximem jovens estudantes da leitura de periódicos. Segundo dados da associação, existem hoje 50 programas de incentivo à leitura de jornais no país. Em geral, os acordos são firmados entre empresas jornalísticas e prefeituras, escolas privadas, sindicatos ou bibliotecas. Só na Região Sul, há 16 programas que levam o conteúdo dos periódicos a alunos da educação básica.
Aplicação
Para a professora doutora Lídia Maria Gonçalves, pesquisadora do tema na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o maior benefício da prática é o desenvolvimento do gosto pela leitura – base para o desenvolvimento intelectual e que não se dá somente por meio de livros didáticos. Ela destaca ainda que a mídia impressa pode conectar alunos ao mundo em que estão inseridos, ligando os temas do ambiente escolar às questões sociais contemporâneas. “Ao mesmo tempo em que os alunos têm contato com a norma culta da língua, eles passam a conhecer assuntos de interesse público. É uma forma de ligar a escola com a vida.”
A faixa etária dos alunos não é um problema para a pesquisadora. Com as devidas adaptações, Lídia defende que é possível incluir os jornais no cotidiano escolar desde a educação infantil. “É claro que alunos da pré-escola não sabem decodificar, mas a leitura é muito mais do que decodificação. É compreensão e interpretação. E isso elas fazem”, diz. Com crianças pequenas, temas abordados pela mídia impressa podem ser usados em projetos desenvolvidos em sala de aula, como o trânsito ou o meio ambiente.
Famílias e turmas inteiras envolvidas
A Escola Municipal Antônio José de Carvalho, de Campina Grande do
Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, recebe um exemplar da Gazeta
do Povo diariamente. A escola é uma das centenas de instituições
participantes do projeto Ler e Pensar e, há cerca de quatro anos, tem
seu corpo docente envolvido intensamente com o jornal. “Ele [o jornal]
se tornou uma ferramenta imprescindível. A primeira coisa que fazemos
quando chegamos é separar o que vai ser usado nas atividades em sala
naquele dia”, conta a supervisora Maria Rita de Paula Lima.
Maria Rita explica que, com as reportagens, as turmas desenvolvem
trabalhos sobre saúde bucal, tratamento do lixo e uso consciente da
água, por exemplo. Sempre que alguma matéria referente a esses assuntos é
publicada, o professor responsável a aproveita nas atividades e o
resultado do exercício vai para os blogues de cada turma.
Na página www.clubedosdentes.blogspot.com,
que pertence à turma do 5.º ano B, é possível conferir as atividades
desenvolvidas pelos alunos a partir de reportagens que abordam o combate
ao fumo, a saúde bucal e os males que o álcool pode causar. Já a turma
do 5.º ano A cuida de temas relacionados ao trânsito e se mantém atenta a
tudo o que é publicado sobre o assunto. O resultado dos trabalhos pode
ser visto em www.transitocultiveessaideia.blogspot.com.
“Maleta Viajante”
Na Escola Atuação, da rede privada, alunos do 2.º ao 5.º ano também
usam edições da Gazeta do Povo de forma pedagógica. Em um dos projetos,
chamado de Maleta Viajante, cada criança leva para casa uma mala com uma
página do jornal e um caderno. Como tarefa de casa, o estudante deve
interpretar uma das reportagens em conjunto com os pais. No dia
seguinte, ele apresenta para a turma o que entendeu sobre aquela
notícia.
De acordo com a professora Alesandra Gaspar Lamb, a recepção das
famílias diante do projeto é muito positiva. “Eles nos contam que ficam
sabendo de vários assuntos em casa porque o filho deles leu primeiro,
aqui na escola.”
Ler e PensarO projeto Ler e Pensar foi criado pela Gazeta do Povo em 1999 e é mantido a partir de parcerias com secretarias municipais de Educação, instituições de ensino superior, patrocinadores, apoiadores, além de educadores e pedagogos de escolas públicas e particulares. Em 12 anos, o projeto beneficiou cerca 600 mil estudantes e 5 mil professores em 40 municípios paranaenses. Hoje, 509 escolas públicas, privadas e organizações não governamentais estão vinculadas ao projeto.
No ano passado, o Ler e Pensar venceu a categoria Newspaper in Education do Prêmio Mundial Jovens Leitores, promovido pela Associação Mundial de Jornais (WAN), que reconhece ações encabeçadas por empresas jornalísticas e voltadas à formação de jovens leitores.
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